Por que razão o CEO da Xiaomi sugeriu comprar carros da concorrência?

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20 de setembro de 2025
No dia 19 de agosto de 2025, a Xiaomi lançou oficialmente o YU7, o seu primeiro SUV elétrico. O impacto foi imediato: em apenas 18 horas, o modelo acumulou 240.000 encomendas — um feito extraordinário para qualquer fabricante, ainda mais para uma marca estreante no setor automóvel.
Fundador do KumbuFacil.com e Criador da plataforma AIPEGS.net.
Mas o sucesso trouxe consigo um enorme desafio: os prazos de entrega. Quem fizer a encomenda hoje terá de esperar entre 56 a 59 semanas pela versão standard — mais de um ano. As versões Pro e Max também enfrentam atrasos significativos.
A polémica agravou-se porque muitos clientes já tinham pago depósitos não reembolsáveis de 5.000 yuan (cerca de 650€) sem saberem, de antemão, que os prazos seriam tão longos. As redes sociais e as plataformas de reclamações encheram-se rapidamente de críticas.
E foi aí que aconteceu algo inesperado: o próprio Lei Jun, CEO da Xiaomi, admitiu publicamente que os prazos eram demasiado longos e sugeriu aos clientes com pressa que considerassem modelos da concorrência, como o Tesla Model Y, o XPeng G7 ou o Li Auto i8, que têm entregas mais rápidas. Uma jogada rara no setor automóvel, mas que revela muito sobre a estratégia da Xiaomi.
Mesmo assim, muitos continuam a escolher o YU7. Porquê? Primeiro, porque o preço é muito competitivo, cerca de 253.500 yuan (32.500€), ficando 4% abaixo do Tesla Model Y equivalente. Depois, porque oferece uma autonomia sólida, carregamento rápido e um design moderno, aliado a uma interface tecnológica de ponta. E claro, há também a confiança que a Xiaomi já conquistou ao longo dos anos no setor da eletrónica de consumo, o que faz com que muitos acreditem que esta aposta na mobilidade elétrica vai correr bem.
Quanto à atitude de Lei Jun, ela explica-se por vários fatores que se cruzam: a enorme pressão dos clientes, com queixas públicas que exigiam uma resposta rápida e transparente; a necessidade de proteger a reputação da marca, mostrando humildade e credibilidade ao admitir limitações; a realidade de uma capacidade de produção que, mesmo em expansão, ainda não consegue acompanhar uma procura tão recorde; e, por fim, a tentativa de evitar frustração total, já que é preferível recomendar alternativas do que deixar os clientes presos a prazos intermináveis e acabarem por desistir desiludidos.
No fundo, o caso do YU7 ensina uma lição importante: um grande sucesso pode transformar-se rapidamente num grande desafio. A Xiaomi mostrou coragem ao escolher a transparência em vez de prometer o impossível. Quando a procura ultrapassa largamente a capacidade de resposta, não basta ter um bom produto — é preciso gerir expectativas com transparência, honestidade e visão estratégica.
A atitude de Lei Jun, ao sugerir concorrentes, foi inesperada, mas também um sinal de que a marca não quis “vender ilusões”. Pode ter sido um risco, mas revelou uma aposta clara na reputação a longo prazo, valorizando a confiança em vez da venda imediata.
Fica, no entanto, a reflexão: será que esta honestidade vai reforçar a imagem da Xiaomi como uma marca de confiança, ou poderá afastar potenciais clientes que não toleram esperar? Será que a humildade do CEO vai ser lembrada como um gesto corajoso, ou como uma fraqueza estratégica? E, se a produção não conseguir acompanhar a procura no futuro, será que esta lealdade conquistada hoje se manterá amanhã? Será que a marca conseguiu proteger a sua reputação ou acabou por abrir portas para os concorrentes?
Num mercado tão competitivo como o dos automóveis elétricos, estas perguntas não têm respostas fáceis — mas ensinam uma lição importante: a gestão de expectativas é tão crítica quanto a inovação tecnológica.
Elso Manuel